Sugere-se ler antes Memória, atenção e outros aspectos da cognição.
As demências são transtornos neurocognitivos que se manifestam por déficits na cognição e alterações comportamentais. Existem vários tipos e são classificadas de acordo com a causa, sendo importante salientar que é muito comum haver duas ou mais causas sobrepostas. Atingem em torno de 6% dos idosos com 60 anos, sendo que esta prevalência dobra a cada cinco anos.
Em relação à gravidade, dividem-se em transtorno cognitivo leve e transtorno cognitivo maior. O ponto crítico que separa os dois subtipos é a interferência na independência. Enquanto que no transtorno cognitivo leve o grau de déficit cognitivo e comportamental não é suficiente para prejudicar a independência do indivíduo, no segundo há comprometimento da independência.
Nem todos os indivíduos com transtorno cognitivo leve irão progredir para transtorno cognitivo maior, sendo que esta conversão ocorre em aproximadamente 50% dos casos. Doença de Alzheimer
Descoberta por Alois Alzheimer, corresponde a 60% de todas as demências. Inicia geralmente com déficits na memória episódica de forma insidiosa e com progressão gradual. Logo em seguida surgem outros déficits neurocognitivos e alterações de comportamento (depressão, ansiedade, labilidade de humor, alucinações, etc).
Em análises de cérebros de indivíduos que passaram por necrópsia, há algum tempo tem-se verificado a presença de placas senis (de material amioloide), emaranhados neurofibrilares e gliose (perda de neurônios) do hipocampo (região do cérebro responsável, entre outras coisas, pela memória) e de outras áreas. Tais alterações atualmente podem ser evidenciadas através de modernas técnicas de imagem cerebral.
Ainda não existem exames confiáveis que mostrem quais são as pessoas com maior risco de desenvolver a doença. Somente a Doença de Alzheimer de início precoce tem uma configuração genética específica. Entretanto, corresponde a apenas 0,1% dos casos.
Os fatores de risco conhecidos são:
. idade avançada;
. história familiar de Doença de Alzheimer;
. presença de polimorfismos no gene ApoE4;
. baixo nível socioeconômico;
. doença cerebrovascular;
. história de depressão;
. diabetes.
Demência vascular
Muito raro ocorrerem sozinhas. Em geral ocorrem com outro tipo de demência concomitantemente.
Os sintomas tendem a serem os mesmos da Doença de Alzheimer: amnésia, confusão mental, déficits na função executiva, etc. Entretanto, tos sintomas, ao contrário do Alzheimer, tendem a surgir de forma repentina e não gradual, embora isto não seja uma regra. Exames de imagem cerebral auxiliam nesta distinção.
Os fatores de risco são:
. idade avançada;
. história de acidente vascular cerebral (AVC): 10% das pessoas acometidas de AVC desenvolvem demência e 30% após dois ou mais AVCs;
. baixo nível socioeconômico;
. hipertensão arterial;
. doença vascular; .
fumo;
. obesidade;
. diabetes;
. hipercolesterolemia: altos níveis de colesterol total e LDL no sangue.
Demência por corpos de Levy
Os sintomas se desenvolvem de forma insidiosa. Os principais sintomas são:
. flutuações de atenção e cognição durante o dia, semelhante a delirium; . alucinações visuais; . alterações motoras tipo parkinsonismo (rigidez, tremores, alterações no andar e lentidão dos movimentos) começando junto com os sintomas de disfunção neurocognitiva ou um ano após;
. quedas;
. delírios;
. transtornos do sono REM (período do sono em que a pessoa sonha).
Demência frontotemporal
Ocorre mais em demências de início precoce e afeta especialmente a linguagem e o comportamento. Os sintomas se desenvolvem de forma insidiosa. Existem três subtipos, conforme segue:
. Comportamental: falta de empatia, desinibição social, inflexibilidade mental, comportamentos repetitivos e ritualísticos, falta de julgamento em relação ao seu comportamento, hiperoralidade (por exemplo, come muito doce), depressão, labilidade de humor e incontinência urinária e/ou fecal;
. Semântica: incapacidade de nomear objetos, dificuldade para encontrar palavras, dificuldades na compreensão verbal;
. Não fluente (ou afasia progressiva primária ou Doença de Pick): fala arrastada, uso incorreto da gramática e anomia.
. De 20 a 30% apresenta sintomas de parkinsonismo (rigidez, tremores, alterações no andar e lentidão dos movimentos).
Em relação ao tratamento, existem suas classes de medicamentos que são utilizados: inibidores da colinesterase (donepezil, rivastigmina e galantamina) e o antagonista dos receptores NMDA memantina. O tratamento das demências ainda é assunto controverso.
Os efeitos dos medicamentos disponíveis não tem qualquer impacto na evolução da doença. Isto quer dizer que não impedem que se agrave com o tempo.
O que se sabe é que no caso da Doença de Alzheimer podem atenuar a gravidade dos sintomas ao nível de severidade de seis meses atrás. Ou seja, numa doença de evolução de cinco anos, com o uso do medicamento é como se o indivíduo estivesse com quatro anos e meio de evolução. Ou seja, os efeitos são muito modestos.
Um ponto em que todos concordam é que não devem ser usados em quadros de Doença de Alzheimer mais graves, pois há o risco de agravamento da doença, e nem em transtornos cognitivos leves. Assim, a indicação em geral é para demências leves e moderadas, muito embora não haja consenso sobre seus benefícios reais a longo prazo. A rivastigmina parece melhorar quadros de Demência por Corpos de Levy. Não há indicação de uso nas outras demências.
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